domingo, 12 de junho de 2011

Tanto de meu estado me acho incerto

Tanto de meu estado me acho incerto,

Que em vivo ardor tremendo estou de frio;

Sem causa, juntamente choro e rio;

O mundo todo abarco e nada aperto.


É tudo quanto sinto um desconcerto;

Da alma um fogo me sai, da vista um rio,

Agora espero, agora desconfio,

Agora desvario, agora acerto.


Estando em terra, chego ao Céu voando;

Numa hora acho mil anos, e é de jeito

Que em mil anos não posso achar uma hora.


Se me pergunta alguém porque assim ando,

Respondo que não sei; porém suspeito

Que só porque vos vi, minha Senhora.


poema de Luís Vaz de Camões


Beijinhos e abraços.

Sem comentários:

Enviar um comentário